Avançar para o conteúdo principal

SEXTOU: APRENDENDO A SER BANDIDO (PARTE 2)

DOMINGOS OLIVEIRA DE SOUSA

Luíza queria que eu a levasse na boca. Eu não gostava de ir a boca. Levei. Ela queria falar com o chefão. Fernando armado nos recebeu. Não foi simpático. Olhou para nós como se dissesse o nós queríamos. Luíza não se intimidou. “ Tenho uma proposta de uma festa. Gostaria de falar com ele”. Ficamos sentados em batente na boca, cheirando a urina, enquanto o movimento rolava. Os vendedores andavam armados. Consumiam o que vendiam. Luíza reprovava aquelas ações.

Jorge nos recebeu na rua com uma arma na mão.

- O que vocês querem?

- Comprar drogas. Respondeu Luíza com ar de impaciência.

- Taí. Pode comprar. Respondeu Jorge.

- Quero comprar 20 quilos de pó. 40 quilos de maconha entre outras coisas.

- Você tem dinheiro para tudo isso, menina?

- Meu nome é Luíza. Tenho. Não vim aqui para jogar conversa fora.

- Venha…

Entramos no escritório de Jorge. Ele pediu para deixar o celular na mesa dele. Pediu também levantarmos as camisas e mostrassem o que tínhamos nas bolsas. Estávamos limpos e os sacos estavam com muito dinheiro.

Podemos conversar agora. Disse Luíza.

- Pode. Falou Jorge.

- Tem uma festa Rave sob a minha responsabilidade. A droga que rolar por lá será minha. Quer vendar para mim? Ou quer ser o meu parceiro nesta festa? Trouxe o dinheiro. Você tem a droga?

- Tenho. Mas eu não tenho como lhe entregar agora. O volume é muito grande. Meu pessoal leva 10 horas para preparar esta demanda. Deixa eu ver o dinheiro?

- Deixa eu ver a droga. Falou a Luíza.

Jorge abriu uma porta de um quarto e ela viu o pó e a maconha.

- Você tem droga sintética?

- Aqui, não tem muita saída. Estas drogas são de ricos. Elas são caras, eu compro em euro. Entendeu. Diga quanto quer? Que eu compro para você?

- Certo. Vou anotar a quantidade e as drogas.

- Se eu quiser ser parceiro, quanto isto vai custar?

- Metade de tudo e metade do lucro.

- Você vai vender com os meus preços?

- Não! Vou triplicar… e depois dividimos. Moro em condomínio luxo. Lá, não tem polícia. Eu posso levar 20 quilos e consigo 20 compradores em dois dias. No dia da festa, eu posso pegar seu pessoal bem cedo para vender sem armas e sem consumo do que se vende. Quero ver todo mundo sóbrio. Ninguém sem camisa e arrumado. Compre tênis para todo mundo e roupa de marca. Certo.

- Certo. Sorriu Jorge.

- Estou com 400 mil que vou levar de cocaína e 200 mil vai ficar com você colocar seu pessoal para preparar o papelote. Eu entro com 200 e você com 200.

- E este pó que você vai levar também tá neste acerto.

- Tá! Disse Luíza.

- Então, só basta pagar 200 para começar a parceria. Dez quilos meus, dez quilos seus.

Luíza pegou a mochila que estava nas costas e começou a colocar na mesa contando de um a um os pacotes de 10 mil reais, quando chegou em 20 ela disse:

- Quer contar? Quer ver se tem algum falso.

- Menina. Primeiro, eu confio. Segundo, eu desconfio. Terceiro, eu mato.

- Então, conte! Eu não quero morrer.

Jorge passou a mão nas cédulas com o intuito de ver se eram verdadeiras. Em seguida, chamou Marta e pediu que ela ligasse a máquina de contar dinheiro. Ela sabia quando era falsa… ou verdadeira. Ela disse que as cédulas eram novas. “Saíram do banco. Bote Fé”.

A máquina foi rápida. Teve uma sobra de 2.000,00 reais a mais. Jorge devolveu. Todos sorriram.

- Este é o número de meu telefone ligue para mim qualquer hora. Eu não durmo. Eu cochilo. Jorge abriu uma gaveta e em seguida uma caixa com dois colares de prata. Colocou no pescoço de Luíza e entro em mim.

- Como é seu nome menino?

- Fred. Respondi

- Quando vocês saírem daqui todos saberão que vocês estão comigo. São parceiros. Ninguém vai mexer com vocês aqui no bairro. Podem chegar qualquer hora, mas, pela manhã, até às 9:30 é tranquilo como fizeram hoje. Nunca apareçam na segunda — feira, é o dia de prestação de contas, a polícia vem aqui e só sai daqui com a parte deles.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O presidente que não sabia ler

Domingos Oliveira de Sousa Uma das perguntas que eu faço direta e/ou indiretamente aos meus estudantes é se eles sabem ler. Tenho essa obrigação. Sempre que é possível, leio algo no início da aula ou no final. Trabalho com hipertexto é várias leituras acontecem no decorrer da aula. Ler é o primeiro passo. Quando percebo que o estudante não sabe ler. Tenho que voltar atrás. Pois que, se não sabe ler, não sabe escrever, não pensar o mundo, não sabe interpretar o mundo, nem tão pouco a si mesmo. Ele terá dificuldade de ser um sujeito formal. Será quem sabe um operacional concreto, ou ainda, um pré-operacional como afirma J. Piaget nas suas pesquisas sobre o desenvolvimento cognitivo. Percebo que muitos dos meus alunos são concretos. Sei também que alguns colegas são concretos isto constrói uma geração de sujeitos que não pensam. Executam. Copiam. Fazer o que é pedido, contudo não pensam. Voltamos ao século dos copistas? Esta talvez seja o juízo mais caro. Pensar. Reflet...

Página Virada

Domingos Oliveira de Sousa É lembrando Chico Buarque, contudo não é apenas um folhetim. O ano termina com a sensação de uma mudança. Sei que estou fora dessa agenda. Encontro-me fora tanto do ponto de vista municipal, estadual e federal. De fato, são várias “páginas viradas”. Quando falo em outsider, refiro-me à Norbert Elias e a minha condição de professor, afrodescendente e nordestino. Talvez, ou muito certamente, eu faça parte do sujeito que compõe a modernidade tardia de A. Giddens ou a modernidade líquida de Z.B. É como se eu chegasse em uma festa que começou no início do século XX, e eu entrasse nesta festa no início do século XXI, entendo que não estou em igualdade de condições com aqueles que historicamente já tem se espaço conquistado. Eu chego para pagar a conta, para limpar o chão, o banheiro. Estou aqui para cortar a grama. Lavar os pratos. Assistir televisão e imaginar que faço parte desta tal modernidade. Sei o quanto é incomodo, quando estou a ocupar alguma ...