Domingos Oliveira de Sousa
Uma das perguntas que eu faço direta
e/ou indiretamente aos meus estudantes é se eles sabem ler. Tenho essa
obrigação. Sempre que é possível, leio algo no início da aula ou no final.
Trabalho com hipertexto é várias leituras acontecem no decorrer da aula. Ler é
o primeiro passo.
Quando percebo que o estudante não sabe
ler. Tenho que voltar atrás. Pois que, se não sabe ler, não sabe escrever, não
pensar o mundo, não sabe interpretar o mundo, nem tão pouco a si mesmo. Ele
terá dificuldade de ser um sujeito formal. Será quem sabe um operacional
concreto, ou ainda, um pré-operacional como afirma J. Piaget nas suas pesquisas
sobre o desenvolvimento cognitivo.
Percebo que muitos dos meus alunos são
concretos. Sei também que alguns colegas são concretos isto constrói uma
geração de sujeitos que não pensam. Executam. Copiam. Fazer o que é pedido,
contudo não pensam. Voltamos ao século dos copistas?
Esta talvez seja o juízo mais caro.
Pensar. Refletir. Cogitar. Flanar. Isto acabou. Eu quero a nota. A impressão
dada é que o estudante quer apenas a nota. É o suficiente a nota. Passou não
tem queixa. Perdeu você não presta. Estamos produzindo uma legião de ignorantes
no sentido latino, isto é,”o do não saber” O indivíduo que não sabe nada, mas
tem um pedaço de papel .que o legitima dizer que é algo. É como se o diploma
tivesse dois pesos: um o peso do saber, outro o peso de ter. Antes o diploma
era um só. Agora não se sabe bem a polissemia que um diploma pode vir a ter.
Sem falar nos falsos, nos comprados e afins.
Quando vejo um presidente que não sabe
ser ler. Eu acredito que seja produto de tudo isto. População heterônoma,
presidente heterônomo. População iletrada, Presidente iletrado. Vale o discurso
da força. Vale a ameaça que se concretiza em pouco reflexão seja os médicos
cubanos, seja uma impossível liderança na América do Sul, que não realizar-se-á
com posturas tão estreitas.
O presidente que não sabe ler. Não sabe
falar em públicos. Não sabe correlacionar dois objetos de discussão. Em certa
medida, é possível que no decorrer dos meses ele melhore. É preciso ler mais
sobre objetos que estão em discussão. Interrogar mais seus assessores sobre o
conteúdo apresentado a ele, pois ele tem que estudar. Aprender a ler e refletir
sobre o que fala. Caso o contrário, ficará assim lendo mal texto prontos como
aqueles estudantes medíocres que aparecem para apresentar o trabalho sem saber
ler ou muito menos conhecer o assunto tratado.
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