Domingos Oliveira de Sousa
É lembrando Chico Buarque, contudo não
é apenas um folhetim. O ano termina com a sensação de uma mudança. Sei que
estou fora dessa agenda. Encontro-me fora tanto do ponto de vista municipal,
estadual e federal. De fato, são várias “páginas viradas”. Quando falo em outsider,
refiro-me à Norbert Elias e a minha condição de professor, afrodescendente e
nordestino.
Talvez, ou muito certamente, eu faça
parte do sujeito que compõe a modernidade tardia de A. Giddens ou a modernidade
líquida de Z.B. É como se eu chegasse em uma festa que começou no início do
século XX, e eu entrasse nesta festa no início do século XXI, entendo que não
estou em igualdade de condições com aqueles que historicamente já tem se espaço
conquistado. Eu chego para pagar a conta, para limpar o chão, o banheiro. Estou
aqui para cortar a grama. Lavar os pratos. Assistir televisão e imaginar que
faço parte desta tal modernidade. Sei o quanto é incomodo, quando estou a
ocupar alguma posição que represente poder.
Faço parte dos sujeitos pós abolição, e
tudo que chega para mim ainda é a sobra. Chega o que não tem mais valor aquilo
que não tem mais serventia. Festeja-se o ineditismo tardio do afrodescendente
como algo que deveria ser festejado, contudo mostra o quanto não saímos desta
condição de libertos sem a devida reparação e possibilidades de representações
sociais da/na estatura que merecemos.
A página virou, contudo não faço parte
desta história. Agenda da afrodescendência vai novamente ser atropelada pelas
lutas de classes, ou ainda, pelo fim democracia. Este é o conflito dos
subalternizados. Estes serão suprimidos por discursos e práticas onde as
agendas estarão fora das políticas públicas no sentido de assistir aqueles que
na história do Brasil estiveram à margem.
Os racistas que estão por vir. Estão
por assumir o poder. Vão mais uma vez alijar a educação brasileira. Não se
trata de um arremesso ao mar. Uso está figura de linguagem por falta de outra
que simbolize para onde caminhará a educação e os educadores.
Os racistas estão chegando com a ideia
de uma ordem, que só propõe desordem para aqueles que tinham esperança na
mudança de suas vidas. “Será página virada? ”. Eis a questão. O voto ainda é
algo novo para tanta dignidade que ele propõe, para tanta justiça que ele por
vir a proporcionar. Voltamos à
subalternidade. Estamos fora da beirada do poder.
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