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Generais prestando depoimento: Será que chegamos ao fundo do poço?

              

           DOMINGOS OLIVEIRA DE SOUSA

Quando li “Viva o Povo Brasileiro ” de João Ubaldo Ribeiro. Em certo momento, ele narra atos ilícitos cometidos por militares de alta patente. Não me lembro do adjetivo dado pelo escritor de Itaparica-Bahia, mas não foi coisa boa. Tenho a impressão que foi “capadócio”. Hoje, vejo generais prestando depoimento e tenho uma péssima sensação que João Ubaldo estava correto em suas pesquisas sobre o exército brasileiro na Guerra do Paraguai.

As forças armadas sempre passaram a ideia de retidão. Isto inclui honestidade. O que surpreende é que alguns generais da reserva foram compor quadros importantes no Palácio do Planalto. Problematiza-se; se um capitão do exército, que foi expulso desta corporação, encontra-se no cargo de presidente do Brasil convida quadros das forças armadas, então por qual motivo militares de alta patente foram compor o seu governo?

A fala de um general é de quem manda. Não é de quem escuta. Ou ainda, escuta com o entendimento acertado. Escuta para ganhar tempo no que vai ou deseja fazer. Há várias distâncias entre a vida militar e a vida civil. Eis a questão: militares obedecem, mesmo que seja de forma esdrúxula; civis tem o direito da dúvida. Não quero dizer que todo civil é desonesto e todo militar é honesto nem o contrário. Quero dizer que a formação moral está cada vez mais distante dos civis e dos militares.

Eis a primeira a questão, os militares por retidão de postura não deveriam participar de um governo de ex-militar que foi expulso de tal grupo. Será que os probos campearam pela vaidade que os cargos poderiam lhe oferecer? O presidente Bolsonaro não é militar há muito tempo; mesmo que tenha um fascínio por um torturador entre outros militares.

Ele é civil. A impressão dada é que o presidente se apropria de imagens que não são mais dele, como forma de sobrevivência política. Isto confunde e continua embaralhando as imagens para os leigos na procura das forças armadas como forma na manutenção da lei e a ordem. Eis uma questão de apropriação de identidade. Não sou militar, mas continuo como se fosse militar. A população acreditou nisto e não percebeu os jogos de imagens sobrepostas.

A segunda questão foi a forma pela qual o ministro Supremo Tribunal Federal -Celso de Melo -. Tratou os três generais em seu despacho. Estes não foram tratados com a estatura do cargo e seu histórico de vida merecia. A ideia que estes senhores viram e ouviram, isto é, presenciaram o presidente da república cometer um crime contra a constituição passível de impedimento do cargo. Eis a gravidade do momento e a diminuição dos sujeitos implicados.

A terceira é a linguagem de ameaça. As falas são contra o STF (Supremo Tribunal Federal), Congresso Nacional e para imprensa. A interpretação que passa é que militar quer um inimigo para atacar esta é a primeira. A segunda é que em uma democracia os pares se respeitam, bem como a constituição de 1988. Em certas falas, não a respeito a ninguém. Fica implícito que eu mando e você obedece. A todo tempo o discurso contra a frágil democracia brasileira tem sido empunhado.

Agora o esforço não é mais como ocorreu o impedimento da presidente Dilma do cargo como foi feito no seu 2º mandato. Agora, o que se percebe, é o aprofundamento do controle. É a perpetuação da força frente a pluralidade de ideias que borbulha em espaço democrático. Não necessita ser linguista ou fazer a análise do discurso. Algumas falas sobre patriotismo e algumas falas sobre o caos. Deixam transparecer o texto subliminar da ordem e da pátria. Estamos beirando o totalitarismo. Os sinais já foram dados. Se não tomarmos as medidas necessárias, voltaremos a ter um só entendimento do mesmo objeto.

Algumas conclusões:

O que é ser patriota? Do ponto de vista do censo comum e com todo respeito ao senso crítico, contudo o que prevalece é o primeiro. No mundo militar, o amor à pátria encontra-se intimamente aos símbolos nacionais: bandeiras; hinos, brasões e um sentimento de pertença de grupo que protege o país. No mundo civil tem maior significado no desporto quando atletas brasileiros/as perdem ou ganham disputas em jogos internacionais. A impressão é que os militares tomaram para si o primeiro significado como nenhum civil pudesse fazer uso destes. Há adversativas, E o amor aos brasileiros, sobretudo àqueles que vivem a minguá, os que moram nas florestas os que moram em terras quilombolas de subsolo rico em minérios preciosos. Serão estes brasileiros? Estes fazem parte destas duas pátrias?

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