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O bolo de novembro Domingos Oliveira Sousa

   

João pensou em comprar um bolo no mês de outubro. Antes, ele olhava para o bolo na vitrine da loja. Sorria timidamente para  vendedora. O dinheiro no final do mês nunca dava. Ele olhava para os bolos e ficava frustrado por não ter condições de aquele tipo de bolo.

O vizinho de João sempre tinha um bolo. A família de José já não ligava para o bolo que ele trazia todo dia. Não tinha mais graça. O bolo era cortado de frente para a televisão pontualmente às 20:00. À medida que o bolo era comido, o silêncio que se estendia pela sala. Ouvi-se as notícias pela televisão. Só assim, João sabia que seu vizinho José estava comendo o bolo.

João não tinha inveja de José. Achava que todo mundo tinha direito a um bolo no horário do jantar. A filha de João não queria engordar, mas queria um bolo no horário de jantar. Parecia chique. Jantar e comer bolo.

A mulher de João sabia fazer bolo. Era fácil fazer dizia ela sorrindo. A filha também tinha desenvoltura com receita de bolos. Gostava de gastronomia, contudo queria comer o bolo da loja.

João era sempre ponderado. Não tinha um desejo ansioso. Sempre pagava as contas com a certeza que o dinheira chegaria para tudo: a despesa com as compras domésticas, a gasolina do carro, água, luz, internet, telefones, almoços e jantares no finais de semana, um presente para a mulher de vez em quando e guardava um pouco para alguma surpresa durante o mês.

João sempre imaginou-se classe médio. Tinha uma profissão reconhecida socialmente. Fazia viagens para o exterior do país. Bebia vinho da melhor qualidade. Viajava para ouvir uma ópera. Tinha conhecimento  superior para muitos sobre o mundo que lhe rodeava. Tinha alguns funcionários. A mulher era bem sucedida e a filha caminha pelo mesmo sucesso da família. Então, a família perfeita na a dizer.

O bolo apareceu em sua casa no mês de outubro. Ele não comprou. Não pediu a jovem senhora que vez por outra ele soltava um sorriso tímido e educado. Era um sorriso desinteressado. Era um forma de dizer bom dia sem soletrar um sílaba. Estava lá no centro da mesa o bolo.

A primeira a sensação foi a de surpresa. Cada um dos membros da família interrogava um ao outro sobre quem possivelmente tinha comprado o bolo. Ninguém se assumia a responsabilidade. O bolo estava no meio da mesa. Pouco a dizer sobre isto. Um olhava para o outro e ninguém sabia dizer afinal quem tinha comprado aquele bolo.

Comeram o bolo como se fossem o vizinho naquele dia. O sabor era elogiável, contudo não passou de uma fatia para cada um. Nesta noite, ninguém conseguiu dormir. Todos acordaram sentido um mal cheiro dentro de casa que eles não conseguiam identificar a origem de odor. Por precaução, chamaram o corpo de bombeiro a fim de verificar se algum animal estivesse morto dentro de sua casa. Olharam também as instalações sanitárias a fim de verificar se havia algum vazamento e também nada.

No dia seguinte, comia-se o bolo novamente. O mal cheiro diminuiu, contudo na porta da casa apareceu um corpo produto de bala perdida. A justificativa foi o corpo para aquele morto em decomposição. A família foi a primeira a delegacia dar explicações sobre o desconhecimento do corpo. Como a família é de boa reputação. As investigações foram por outro caminho.

No terceiro dia, a filha teve alucinações ou foi pura verdade. Ela viu alguns homens e mulheres saírem de dentro do bolo. Todos estavam armados. Sequestraram o seu pai para dentro do bolo. A sua mãe também viu tudo. Elas ficaram sem saber o que fazer. Como explicar como alguém entrou no bolo?

No quarto dia, João voltou. A primeira coisa que ele fez foi dizer: “Estou atrasado. Tenho que ir ao trabalho”. Ele parecia normal. Elas haviam jogado o bolo fora, contudo apareceu mais um bolo inteiro na sala para  a surpresa e medo das duas.

 As duas mulheres: mãe e filhas começaram a perceber que as famílias ao seu redor tinham um comportamento diferente. Aceitavam qualquer ordem do sujeito que saiam do bolo. Perderam a coragem. Depositaram nele a suas esperanças de vida. Outros perderam os direitos civis. Foram deportados. Outros presos. Outros ainda mortos.


O mês de novembro foi-se(...)! João e José evaporaram do seus respectivos espaços. A nova ordem que se impôs se dá através do bolo. 

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