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Dia de Professor: algumas lembranças ...presente.... passado.... Não sou chegado a datas, mas sei que é importante perceber quem eu era e quem eu sou!




Domingos Oliveira de Sousa[1]
Quando se fala em professor, lembro da Professora Norma. Foi a minha primeira professora no Colégio Nossa Senhora da Boa Viagem. Fui alfabetizado em casa. Minha mãe não apenas cuidou da minha alfabetização, mas de cunhados e cunhadas.  Sei que ela sempre foi minha educadora. Cuidou também da minha formação moral. A professora Norma era chamada de Norminha. Muito certamente pela idade era responsável por uma turma de 1º ano do fundamental.

Ainda no fundamental, lembro do professor Benedito. Professora Norma ainda continua viva. Sei por que vez por outra a vejo perto da casa da minha mãe. Professor Benedito, eu não sei. Foi ele que me apresentou a gramática normativa. Apresentou também O Cabeleira de Franklin Távora. Foi um dos livros que comecei a fazer análise sintática. Isto de alguma forma me ajudou muito a compreender a gramatica sintagmática no curso de Letras na UFBA (Universidade Federal da Bahia).

Professora Lúzia também é uma boa lembrança. Ela sempre pedia que eu lesse de pé e em voz alta. Eu tinha vergonha. Gaguejava as palavras mais simples. Ela insistia. Em casa, éramos quatro. Eu lia com alguma desenvoltura. Eu queria ser rápido na leitura. Atropelava as sílabas e acabava em um fracasso. A professora Luzia tinha uma leitura perfeita. Acabei aprendendo com ela. A entonação era exemplar: interrogação era interrogação, vírgula diferenciava de ponto e vírgula. Enfim, as palavras ganhavam vida a leitura daquela professora.
Líamos de tudo. Livros didáticos e paradidáticos. A palavra “nerd” não fazia parte do nosso vocabulário, contudo havia muita gente boa naquele espaço. Estudávamos com afinco. Havia uma competição, por vezes, velada, por vezes, explícita. Fernando Sabino, Drummond, Murilo Mendes, Paulo Mendes Campos são os que lembro no momento; já faziam parte da minha leitura. Lembro também de um colega que me foge a memória o nome. Sei que ele perguntou ao professor Benedito sobre a eleição de Ronald Reagan nos E.U.A. e quais seriam as consequências para o Brasil. Não lembro da resposta, mas a pergunta para um estudante no início do fundamental. Era qualquer coisa de magistral. Ele levantou o braço. Em seguida, levantou o corpo e perguntou. Foi o primeiro momento que eu tive aula de política internacional na escola.

Estes são os/as professores/as que deram um colorido as minhas ideias no ensino fundamental. Penso neles como algo de bom na minha vida escolar.

Tornei-me professor por uma série de motivos. Fugir de um futuro que desejavam para mim. Meu amigo e poeta recentemente falecido Alberon Gomes Soares influenciou-me as letras. Foi ele que me apresentou o poema a “Tabacaria” de Fernando Pessoa. Eu não sabia que estudaria que em uma universidade que levava o nome do poeta. Por vezes, lembrava do amigo, quando pisava na tabacaria no bairro Foz na cidade do Porto.

 Vivenciei em Portugal a importância que o professor tem na sociedade e como tal pode vir a crescer quando o Estado investe na educação como parte da estrutura da cultura política do próprio Estado. Talvez, se não passasse por aquele aprendizado em Portugal não compreendesse a extensão da importância da educação para o Estado e para a população como um todo.

A democratização política não significou a democratização na educação nem no sentido latu, nem strictu senso. A educação básica pós-guerra não foi reproduzida pós-ditadura militar. Este talvez seja um dos paradigmas para o modelo de educação liberal ganhar força e classe social. 

A reflexão que fiz com alguns colegas é que, quando entramos na educação seja pública, seja particular, a educação vivia o seu esvaziamento de sentido. Creio que esta seja a questão central da educação que tive e modelo de educação que (re)produzo. A educação perdeu básica perdeu ou ganhou outra natureza de sentido que por muitas vezes. Eu passo a não acreditar em possíveis resultados nestes estudantes.  Desde de muito cedo, como profissional, eu sabia que não existia mais a escola que eu fui educado. O espaço físico sim, mas as relações prático/educativa não. O tempero do tempo levou. A ideia de tradição ou invenção da mesma como afirma o historiador Eric Hobbsbawm. É algo muito discutível.
Acredito que a modernidade tardia de A. Giddens ou Líquida de Baumman deu fim a este modelo seja de homem – ser humano – seja a reflexão de mundo, a partir do final do século XX com o advento da internet. Eis a questão.  O homem culto de Antônio Gramsci se encontra completamente ameaçado. Os intelectuais que pensam, executam a educação pública não conseguem nem algo liberal com a devida qualidade nem tão pouco os socialistas. O objetivo central é o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). A desigualdade fica expressa entre a Educação Básica particular e a pública.
Hoje os meus alunos afrodescendentes de ensino médio se alinham a uma direita fascista, que é contra aos Afrodescendentes. Não imaginava uma juventude afrodescendente de direita fascista. Fiquei surpreso com uma leitura do mundo muito subalterna. A sensação que tenho é de que a educação transformadora de pensadores como: Freire, Giroux, M. Apple entre outros estão fora da escola.
 Esta juventude pobre, afrodescendente que imagina fazer parte de uma política ultradireitistas que deseja o massacre destes seguidores demonstra o quanto o Estado enquanto produtor de Educação formal tem falhado na formação de uma Estrutura Educacional com a devida Autonomia Moral para promover os subordinados. Longe do Discurso de Gramsci, os intelectuais que tem pensando a educação pública não estão pensando no homem culto, nem tão pouco ainda no técnico, ou ainda, naquele que poderá entrar no 3ª grau. Há pelo menos: um não saber/fazer com a educação do ponto desta da estrutura e da possível ruptura com a tradição cultural de pensar a educação básica pública como algo menor para a construção de sujeitos menores.
Conclusão a possível educação formal saiu do controle da escola. Esta é a nova questão que muitos de nós educadores deveremos nos debruçarmos para propor formas de trabalhar a educação no sentido no nosso saber/fazer ainda tenha alguma importância no espaço escolar.



[1] É Mestre em Estudos Culturais UFP/PT. 

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