Avançar para o conteúdo principal

Socialista(...)! sem socialismo?







Domingos Oliveira de Sousa[1]




Simpatizo com os socialistas, contudo não me submeto a eles. Esta é minha questão inicial. Isto de alguma forma deixa-me e com algumas dúvidas. A pergunta que faço é se os socialistas são socialistas? Esta é a questão que mais incomoda em um governo que se expressa como esquerda na hora do voto, contudo tem uma postura diferente no exercício do poder. A reflexão primeira é não escrever mais nada e parar por aqui. Sei que não vou fazer isto. A segunda é perceber o que pretendem aqueles que se dizem socialistas e não beiram nada do que venha ser socialismo; sem a utopia de K. Marx nem tão pouco a crítica de Thomas Piketty em “O Capital” sobre um possível novo olhar sobre o capitalismo e em consequência disto seria necessário um novo socialismo. Ou ainda, outras interpretações como fez Ulrich Beck em “Sociedade em Risco”.



Creio que o velho socialismo e suas bandeiras tem importância, seja no campo, seja na cidade, isto é: respectivamente a reforma agrária e a participação do lucro das empresas do trabalhador assalariado. Esta agenda é antiga.  A impressão dada é que algumas bandeiras estão sendo esquecidas propositadamente em nome de outras mais urgentes.



Fala-se agora na manutenção da democracia. Isto é, democracia é bandeira principal dos socialistas, bem como dos liberais. Esta é pedra central do jogo. Sem a democracia a política é outra: ditadura, fascismo, que já se aproxima novamente ao cenário brasileiro com muita facilidade em discursos dos candidatos a presidente da república no Brasil.



 Este conceito de democracia na interpretação dos sociólogos como Z. Baumman e Carlo Bordoni que fazem uma série de reflexões e interpretações sobre o que venha ser democracia.  Ou seja, de um lado, do seu ponto de vista conceitual; do outro do ponto de vista prática e a impressão dada é que a ideia inicial de democracia já foi liquidada. Salvo engano. Bordoni ancorou-se na interpretação de Tocqueville para tratar da democracia nas Américas. Ou seja, a democracia entre outros conceitos vai de acordo com o tempo, o contexto: local, nacional, mundial e, por fim, com os interesses dos seres humanos.



Dito isto, a impressão dada é que os socialistas locais estão construindo uma outra forma de ser socialistas, tentam lampejos do socialismo antigo socialismo, entretanto estão sendo apagados por uma fogueira de populismo incandescente; seja vaidade, seja o próprio poder em si e suas múltiplas representações. Nesta luta entre o Estado fraco e o Capital forte a Democracia tornar-se de fato líquida como todo engenho capitalista e a ideia de socialismo está distanciando de uma possível prática.

É possível permito a interpretar, que as bandeiras antigas e as novas bandeiras estão ameaçadas por alguns motivos. A primeira é óbvia, o socialista uma vez no poder muda de classe social, se em algum momento foi pobre. Este é o segundo movimento de tal forma que este passa a ser representante desta ou daquela bandeira como forma de sobrevivência. Há uma questão mais subjetiva as bandeiras estão sendo tragadas pela própria liquidez pela do Estado e a forma pela qual o capitalismo se comporta em países como Brasil, diferente da matriz, a filial encontra-se na possibilidade de ser inserido no mundo de consumo da Modernidade Tardia, não pelos capitalistas, e sim, pelos que se dizem socialistas. Terceiro, uma vez mudando de classe social, a bandeira é mais simbólica, representativa, contudo “ eu represento você, eu não sou você”. Muda-se de bairro. Isto é, distancia-se da fonte onde bebe-se água. Muda-se de transporte. Muda-se, a segurança, o serviço de saúde, a educação a praia que frequenta o centro comercial que consome. A vida é outra e olhar sobre a vida e a realidade política por vir a ser mais ampla, entretanto não é inclusivo. “Preciso do seu voto, contudo não preciso de você”. Passa-se a viver com aquele discurso, mas a sensibilidade é outra.



Morei em Portugal por algum tempo. Não Portugal de Salazar, mas socialista. Viver em uma realidade socialista. Percebe-se a força do Estado, a assistência e bem estar-social e a importância da educação, da saúde e da segurança Isto, de fato, deixou-me impactado. Lembro que a ministra da educação tinha mesma importância que o ministro da economia. Entendi que ser professor no contexto europeu era algo muito distante que sê-lo no Brasil. Ao mesmo tempo que causa um constrangimento, perceber como o poder político administra a educação, a saúde e a segurança pública no Brasil como algo opressivo quando se relaciona ao povo.




Se assim o for, chego à conclusão que os socialistas locais não são socialistas, isto é, quando um estado fecha escolas e (re)inaugura presídios há algo de errado. A escola pública da Educação Básica é o braço inteligente do estado, quando estado as fecha; deixa a população pobre sem acesso à educação, mesmo que esta não seja formal. Pode-se transforma o espaço escolar em Centro Culturais, onde o estado possa manter-se presente através de projetos de inclusão social, ou ainda, dá outros sentidos ao espaço escolar de acordo com as necessidades da realidade local. Fechar um espaço escolar é admitir: primeiro a população local já não necessita do estado. Segundo, não há mais ninguém em idade escolar naquele espaço a ser assistido pelo estado. Coisa que não verdade. Terceiro, a escola não tem mais sentido para aquela população e é preciso repensar o sentido das escolas e as realidades socioculturais da população local. Não se trata de taxa de natalidade, trata-se da construção de inteligências. Quarto, há um investimento na ignorância da população.




Isto faz com que eu acredite que esta política de Estado não é socialista. Pode até ter o desejo de ser socialista, contudo não o é. Caminha-se para o populismo, caminha-se para práticas neoliberais, contudo estas práticas políticas não são socialistas. Este governo de cimento e brita se distancia da ideia de educar o povo. Esta seria uma oportunidade de criar uma grande estrutura intelectual, mas não acontece.




Referências

BAUMMAN.Z e C.Bordoni. (2016). Estado de crise. Editora Zahar. Rio de Janeiro.

BAUMMAN, Z.(1997) Modernidade Líquida. Jorge Zahar Editora. Rio de Janeiro: .

BECK, U. (2011) Sociedade de Risco. Rumo a outra modernidade.  Ed. 34. São Paulo.

BOBBIO, N. (1986\). O futuro da Democracia: uma defesa das regras do jogo. Paz e Terra. Rio de Janeiro.

PIKETTY, T. (2013). O Capital no Século XXI.  Intrínseca. Rio de Janeiro.



[1] Professor do Estado da Bahia. Mestre em Estudos Culturais. UFP. PT.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Afinal!!! o que aconteceu no PAF?

Algumas coisas precisam ser ditas no que diz respeito ao concurso realizado no último domingo dia 19 setembro de 2010. A primeira diz respeito ao tratamento dado aos professores(as)  pelos fiscais. Em certo momento, cheguei a achar que, por um lado, havia certo nervossísmo do fiscal que não sabia dirigir a nós professores(as); por outro lado, parecia desrespeito mesmo. Afinal, somos educadores não estávamos ali para burlar a lei. Nós, a princípio, é que fiscalizamos as provas que fazemos e através delas é que vamos encaminhado a vida de muitos  estudantes; contribuindo  na relação de ensino e aprendizagem de muita gente e muito certamente daqueles fiscais, que ali se encontravam, desconfiando de uma possível caneta escanner ou de "pesca" com um eletrônico sofisticadíssimo.   A segunda é a própria avaliação que, a meu ver pareceu-me boa e inteligente. Fiz as primeiras 14 questões e li boa parte das outras questões. Os assuntos refletiam as atividades feitas ...

Página Virada

Domingos Oliveira de Sousa É lembrando Chico Buarque, contudo não é apenas um folhetim. O ano termina com a sensação de uma mudança. Sei que estou fora dessa agenda. Encontro-me fora tanto do ponto de vista municipal, estadual e federal. De fato, são várias “páginas viradas”. Quando falo em outsider, refiro-me à Norbert Elias e a minha condição de professor, afrodescendente e nordestino. Talvez, ou muito certamente, eu faça parte do sujeito que compõe a modernidade tardia de A. Giddens ou a modernidade líquida de Z.B. É como se eu chegasse em uma festa que começou no início do século XX, e eu entrasse nesta festa no início do século XXI, entendo que não estou em igualdade de condições com aqueles que historicamente já tem se espaço conquistado. Eu chego para pagar a conta, para limpar o chão, o banheiro. Estou aqui para cortar a grama. Lavar os pratos. Assistir televisão e imaginar que faço parte desta tal modernidade. Sei o quanto é incomodo, quando estou a ocupar alguma ...