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Por uma Educação Necessária: às drogas ilícitas no ambiente escolar.




Domingos Oliveira de Sousa[1]




Sabe-se que a adolescência é um período de conflito e transição. Creio que esta seja a questão central. As drogas, ao que parece, entram como rito de passagem para fase adulta no contexto atual de muitos jovens. Alguns consomem como uma brincadeira passageira, outros consomem e levam a sério chegando ao ponto de tornar-se uma dependência, um vício; construindo modelagem de comportamento na vida adulta.




Escrevo na qualidade de professor. Não sou especialista da área do crime, nem da saúde. Por muito tempo, imaginei se tratar de uma questão jurídica. Tenho mudado de opinião e compreendo que uma questão de saúde pública.




Como a escola lida com o consumo de drogas ilícitas? Sei que muitas escolas públicas e/ou particulares têm alunos/as como usuários, eis a questão: a) se os pais e/ou responsáveis são consumidores de drogas ilícitas. O/A jovem já naturalizou. Pode até ter aceitado e passado a consumir com o pai e a mãe. A novidade é para unidade escolar que tem como princípio de não consumir drogas ilícitas no ambiente escolar; b) se o jovem consome e a família não sabe. Sim, a família pode não saber nem imaginar que seu filho ou sua filha é consumidor. Por mais que a relação seja aberta; o pai não sabe. Até que um dia, o pai é informado que o filho/a é consumidor; c) O filho vive da venda de drogas ilícitas e a família depende daquele dinheiro para a completo da renda familiar. A cumplicidade é muito maior. A família sabe e cala-se por sobreviver daquela maneira.




Existe uma tendência em marginalizar pobreza como local de produção, venda e consumo de drogas. Isto não é uma verdade absoluta, vez por outra imprensa relaciona importação, produção, venda no atacado e no varejo a classe a alta, a empresários e políticos, contudo estes não são presos ao vivo, não existe a espetacularização do crime, ao contrário este ganha a categoria de segredo de justiça e o assunto é dado por encerrado. O processo é respondido, mas imprensa é silenciada.




Com a pobreza, isto é, em bairros periféricos, passa-se a ideia de que as drogas são produzidas, vendidas no atacado e no varejo. Coloca-se um tanque de guerra de frente do morro, policiais morrem e matam em nome de uma ordem e uma lei que especifica para os pobres. De fato, existe uma criminalização da pobreza. Isto também entra na escola. Ou seja, a escola, sobretudo, a pública vai acolher, se ficar atenta as narrativas de vidas tanto do/ estudante que não se encontra envolvido com o consumo e venda de drogas ilícitas, bem como àquele que faz parte deste universo. Em certa medida, permitir-se-á um pouco da complexidade deste contexto.



Em certa medida, percebe-se que a escola é um lugar seguro independente e classe social para o consumo, venda e distribuição de drogas ilícitas. O eixo da unidade escolar seria a ensino/aprendizagem e com muito esforço; muitas unidades escolares procuram manter-se com este objetivo. Há, contudo, uma inversão da ordem, quando esta passa a fazer parte da adolescência como rito de passagem.





Há impressão dada é que se a unidade escolar: professores, gestão e coordenadores ainda se encontram vários passos atrás destas dinâmicas sociais em relação às drogas, a famílias e a relação com o consumo. Sei que a escola não se encontra preparada tanto do ponto de informação tanto quanto de formação nem na graduação nem tão pós-graduação. O Estado brasileiro já deveria ter pensando em um curso de formação de professores em todas áreas, a fim de compreender o consumo, a venda, distribuição de drogas com uma realidade social que atinge a escola com um fato social. Este despreparo acaba colocando o professor/a ou a gestão escolar e contextos: i) o primeiro seria não ligar. Fingir que não está vendo; ii) o segundo compreender como uma questão de segurança, isto é, chamar a polícia e entregar o/a adolescente ao conselho tutelar, a Delegacia do Adolescente Infrator. iii) a criação de temas transversais, a fim de que tal realidade seja discutida, compreendida e refletida no espaço escolar.




Há sinais de legalização da maconha no Brasil. Isto de alguma forma vai enfraquecer o lucro dos grandes traficantes e os seus atritos com a polícia; de um lado; do outro a indústria do tabaco pode vir a lucrar muito com essa legalização e o Estado brasileiro através dos impostos. Entretanto, é preciso compreender não apenas o consumo da maconha, mas também de outras drogas ilícitas como uma questão de saúde. Esta discussão só está começando (...).



[1] É professor do Estado da Bahia. Mestre em Estudos Culturais UFP/PT.

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