Sou educador, não sou operário do saber. Esta luta salarial nos coloca em uma rua sem saída como se nós fossemos uma peça de uma engrenagem enferrujada e desgastada. Nesta onda do operariado no poder fica a sensação que tudo melhorou e tudo é sindical, contudo, nem tudo é sindical e nem tudo melhorou, a caminhada é longa na recuperação da dignidade e do respeito no exercício de educar.
Muito se tem falado sobre a educação em época de campanha política e/ou nas propagandas institucionais. Ouço os discursos, mas fica aquela sensação de um desconhecimento do que se fala. Se o meu voto fosse motivado através das propostas dos candidatos a presidência e a governo do Estado da Bahia no que tange a educação pública; nenhum destes candidatos mereceria o mesmo. As falas são quase iguais e pouco sensíveis a realidades d@s professor@s e a responsabilidades da educação na formação da mentalidade de gerações.
Educação é algo caro e os resultados ocorrem a longo prazo. É preciso um investimento profundo na educação; nas mentalidades dos educadores, na formação e na auto-estima. Não se trata apenas de um aumento salarial, é preciso devolver ao professor uma condição digna do seu labor. Isto é um ponto.
Outro ponto é descolonizar o saber. Muito que se aprende na graduação das universidades é reproduzido no ensino fundamental e médio; como verdade da educação e como forma de fazer uma leitura do mundo e das pessoas que se encontram nele. A escola muitas das vezes não reflete a realidade local dos seus escolares. Existe uma falta de sensibilidade no que tange os conteúdos ministrados na rede estadual de educação. As perguntas: o que se deve trabalhar? Como se deve trabalhar? Ficam muitas vezes sem respostas objetivas (...). A escola acaba por não cuidar da realidade social e sócio – racial d@s estudantes; o discurso encontra-se ainda muito distante da realidade cotidiana da escola pública. É como se houvesse pelo menos duas escolas: uma na qual os/as estudantes freqüentam e outra onde os professor@s trabalham.
Os conteúdos escolares muitas não tratam da realidade contextual do bairro onde moram os alunos e alunas e onde eles vivem seus obstáculos perante a sociedade. A escola tem que cuidar e muitas vezes se perde em tantos afazeres. Por outro lado, as pedagogias, que ocorrem cotidianamente através da mídia, se perpetuam de forma muito sofisticada no ambiente escolar; colocando-se à frente da escola. Do ponto de vista moral, os valores que por muitas vezes vai educando a população vai de encontro com a escola e seus princípios de respeito ao próximo, de formação do cidadão brasileiro e da inclusão social.
A família, quando ela existe, é outro ponto que a escola deve ter atenção, sobretudo, na realidade contemporânea. O casamento da família com a escola acabou. A família caminha para um lado e a escola para outro. A expectativa da família é que a escola eduque seus filhos; por outro lado, a escola tem a expectativa que a família prepare seus filhos para o ambiente escolar; contudo, o que se vê, é um despreparo para lidar com o ambiente escolar; o que vale é o desrespeito ao professor@ e em certos casos desrespeito também dos professores para com os seus estudantes, seja no tocante as aulas, a preparação dos conteúdos; desenvolvendo uma relação de desestímulo tanto escolares quanto professores.
A minha expectativa é construir algo diferente com professores que se encontram na rede; a fim de negar este modelo de operário do saber. Entendo os professores como educadores e desde já faço um convite a todos a fazer uma grande discussão sobre a realidade da educação no ensino público do Estado da Bahia.
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