Avançar para o conteúdo principal

Grupos Étnicos, Multiculturalismo e Etnicidade


Domingos Oliveira de Sousa[1]


Nossa proposta de texto tem como propósito percorrer através de uma linha temática os três artigos: John Rex em «La Réponse dês Sciences Sociales en Europe au Concept de Multiculturalisme», Francis Houle, «Citoyenneté, et multiculturalisme: la politique canadienne de multiculturalisme» e Sylvie Poirier em «Contemporananéités autochtones, territoires et (post) Colonialisme – Réflexions sur dês exemples canadiens et australiens». Sobre o olhar do multiculturalismo[2], grupos étnicos[3] e etnicidade[4].
Talvez, este olhar sobre o «ex – colonizado» que reaparece no espaço do seu colonizador mereça uma ou outra interpretação não tão-somente do ponto de vista da  migração, mas do fluxo e refluxo do Colonialismo a descolonização/neocolonismo e Pós-Colonialismo, (Appadurai:1997), (Hall:2003). Contudo, há uma tendência na natureza dos discursos sobre este temário do multiculturalismo em construir  uma leitura   das politicas que se afirmam em aceitar o diferente, quando em um momento anterior da história, isto é, no período Colonial. O diferente foi colonizado, entendido como inferior, e dominado sob várias formas e modelos económicos e sócio-culturais. Este não aceitou, rebelou-se ou foi forçado a aceitar um possivel “ convivência pacífica” com um outro diferente. De forma que, criou-se tensões e conflitos, onde o rompimento entre o colonizador e o colonizado se deu através do diálogo e/ou da luta armada.
No primeiro artigo, de John Rex “ La Réponse dês Sciences Sociales en Europe au Concept de Multiculturalisme” várias possibilidades de leituras e entendimentos do que venha ser grupos étnicos, o multiculturalismo e etnicidade. Para tanto, o autor vai dar uma visão panorâmica do tema ao procurar fazer considerações do multiculturalismo pós – guerra, e não, do multiculturalismo colonial. O primeiro, dentro de uma perspectiva global, onde o autor traçará como alguns países; seja na América do Norte, seja na Europa, Sul da Ásia e África têm enfrentado estas questões. O segundo, diz respeito intrinsecamente ao primeiro, isto é, as políticas públicas no que diz respeito aos grupos étnicos, e a figura do Gastarbeiter[5], além disso, a realidade multicultural e como pode-se compreender a etnicidade.
Tem que se pensar também em qual o modelo de colonização foi aplicada no países colonizados, e da mesma forma, como está se dando o processo de inserção socio-económica e cultural em diferentes contextos e com os diferentes modelos. E por fim, até que ponto estamos a falar de grupo étnico, multiculturalismo, e quando estávamos a tratar de contexto que se referem a uma etnicidade? Se pensarmos na Colonização Britânica, a nossa compreensão do eu e do outro, ou seja, do colonizador e do colonizado tem uma perspectiva arbitrária, onde modo de ser e modo de estar são transladados para o novo espaço colonial. De maneira que, a estratégia colonial da Grã – Bretanha, tanto quanto o colonialismo holandês na África do Sul,[6]  foi se estabelecer, explorar, entretanto separa-se do autóctone. Isto não quer dizer nestes contactos culturais não houve trocas de uma parte e de outra, assim como sujeitos miscigenados como os chamados coloured na Africa do Sul viveram uma  crise de identidade; contudo a tónica da segregação foi maior que a da miscigenação. De sorte que, o processo de assimilação e/ou aculturação através de diversas formas seja do ponto de vista linguístico; e neste ponto tem-se que salientar que a língua de prestígio passa a ser forte aspecto, seja na formação do pensamento e de como dos homens e mulheres interagirem em grupo, seja nas modificações dos usos e costumes; como também na religião que passou por um processo de descredibilidade, sucumbindo em detrimento a crença do colonizador, ganhando um carácter folclórico aos olhos do senso comum, esvaziando e sendo esvaziada pela força da linguagem cultural[7] dominante.
O texto de John Rex nos faz pensar de como homem ocupa determinado espaço, seja do ponto de vista geopolítico institucional de um Estado-Nação, ou ainda, seja do ponto de vista de uma família, e em ambos os casos, os usos e costumes perfazem o quotidiano dos mesmos, assim como os jogos simbólicos onde cada objecto tem o seu valor naquele espaço, e com isso, constrói-se o que pode-se chamar de cultura (Cohen: 1985).
Até que ponto um grupo étnico não deixa de ser um grupo político? E de que político deseja-se falar? A Europa que se deseja unir, precisa desmembrar-se para construir novas fronteiras, para aceitar/entender as culturas que sucumbiram seja pela força, seja por seu enfraquecimento ou depreciação, e que emergem numa recuperação histórica daqueles que de alguma forma foram “adormecidos[8]”. Entretanto, nesta confluência entre o grupo étnico que volta a marca a sua identidade sócio – cultural e o povo culturalmente colonizado que vive o seu momento de Pós – Colonialismo é que se deve fazer uma reflexão, quando ambos dividem o mesmo espaço geopolítico. Quando ambos querem fazer valer a sua dor, a sua história, a sua verdade.
De sorte que, pode-se construir conflitos nos contextos públicos e/ou privados, onde sujeitos oriundos de minorias etno-culturais passam a serem educados na cultura maioritária? Então, o que vai prevalecer? O que se aprende em casa? Ou que se aprende na escola? A educação e o multiculturalismo, talvez, seja a ponta do iceberg para a construção de uma etnicidade, uma vez que tanto a língua de um grupo étnico, cuja essa minoria é falante, passa naturalmente para segunda língua, quando não, esta passa ser uma língua que se restringe as relações interpessoais familiares de maneira que, se esta não mantiver o contacto directo com o país de origem; perde nas próprias dinâmicas culturais que a própria língua sofre no dia a dia. E o que se pode esperar? A manutenção da tradição pela tradição? Ou assunção da cultura do diferente?
Aquilo que se coloca em questão é a natureza do que venha ser público e/ou privado. Isto porque em uma sociedade multicultural as minorias “étnicas” sofrem um processo de transversalidade de seu próprio espaço privado através dos meios de comunicação os quais a todo momentos estão a “vender”, “impor”, “informar” e “formar opinião” sobre o que é bom, e, sobretudo, dando visibilidade e ordem de valores estéticos, éticos e morais à determinada cultura em detrimento de outra. De sorte que, os modelos de comportamento muitas vezes não condiz com os uso e costumes das minorias étnicas que se encontram distante do seu espaço de origem. Destarte, como entender o que é publico e o que privado? O espaço familiar estar a sofrer interferências quotidianas, onde o privado não é tão privado, quando se deseja ou se esforça para ser.
No espaço europeu, o multiculturalismo ganha formas que se contextualizam no formato das políticas dos países onde o contacto entre o Colonizador e Colonizado se encontram em movimento inverso, isto é, a realidade do Pós – Colonial. Se, por um lado, a França tem dificuldade de lidar com o terrorismo, oriundo de sociedades historicamente teocráticas, onde a religião serve de mote para uma discriminação cultural. (MIles:1993) Por outro, O parlamento Alemão (Bundesrat) tem criado uma série de dificuldades, que se direccionam a imigração Turca – Islâmica2. A Alemanha radicaliza a sua relação com o imigrante turco no que tange a língua e cultura Alemã, ao criar leis que obrigam a população turca, entre as demais populações de imigrantes na Alemanha a aprenderem a língua alemã e por consequência a forma de se pensar o mundo em alemão, por fim a cultura alemã[9].
As leituras perpetradas pelas ciências sociais diversos autores procuram expor seus pensamentos no que tange o multiculturalismo. De sorte que, é dado a este mosaico cultural uma caracterização de inferioridade e/ou de discriminação étnica entre negros e brancos, assim como discriminação cultural, que vai além da cor pele. De modo que, as abordagens teóricas irão oscilar entre críticas favoráveis e desfavoráveis ao que venha ser grupos étnicos e a sua actuação sócio – politica, isto é, a transformação do mesmo em uma entidade representativa de classe; assim como multiculturalismo e etnicidade serão entendidos como são criações para a manutenção do controle social.  
No segundo artigo, «Citoyenneté, et multiculturalisme: la politique canadiene de multiculturalisme», de François Houle, a autora constrói em sua análise da realidade multicultural canadense; a partir de antíteses entre linhas teóricas de pensamento sobre o público e o privado, o estado e a cultura, o multiculturalismo e os grupos étnicos. De sorte que, François Houle descreve a realidade de todo um quadro, onde expõe contexto multicultural daquele país.
Se, por uma lado, o artigo de Francis Houle também trabalha a questão do público e do privado para tratar das questões interpessoais familiares como também a intra pessoalidade de maneira de salientar a relação de pertença e desejo da mesma em variados contexto e estilos de vida. Por outro lado, a mesma tratará dos «esforços» institucionais do governo canadense em criar uma legislação que atenda a todas os grupos étnicos, etnicidade e toda diversidade multicultural que perfaz a realidade da população do Canadá. De tal forma que, no percurso de seu artigo, François Houle procurará salientar leituras teóricas positivas e negativas do modelo multicultural canadense. Seja no olhar do antigo Primeiro-ministro Pierre Elliott Trudeau, seja no olhar do escritor oriundo de Trinidad Tobago de origem «indígena» Neil Bissoondath.

Talvez, esse binómio público/privado esteja a ser alvejado sistematicamente. E, é necessário que isto ocorra a fim de que a marcação da diferença entre os diferentes ganhe formas e contornos e meios de troca, independente do que possa se chamar de espaço público e espaço privado. Acredita-se que, não apenas os meios de comunicação transversalizou modelos de viver, mas também o Estado passa a ser uma agente moderador entre os Grupos Étnicos, a Etnicidade, e o Multiculturalismo, através de leis que assegurem a protecção às mulheres e crianças contra a violência familiar, os casamentos forçados impossibilitando o privado de existir em si, no seu espaço, sem ser tocado pelo público de outras culturas de outros modos de estar e modo de ser.
 Certamente, por isso, o que era natural das práticas de certos grupos étnicos, o tratamento dado as mulheres, homens  e as crianças têm entrado em choque com outros modelos de entendimento de como viver. Este contexto demonstra o quanto a interferência do espaço público no supostamente espaço privado tem transformado em função desta realidade; visto que o privado tem se tornado público através de leis que assegurem que o direito de escolha de seus conjugues, assim como a punição dos mesmos de acordo com as leis que estão acima ou na religião; ou ainda, dos usos e costumes de grupos étnicos. De tal modo que,  prevalece um princípio geral, onde a lei étnica e cultural sucumbi a força em função da forma pela qual o mundo globalizado e as relações sociais são entendidas nas sociedades contemporânea. Contudo, em sociedades teocráticas onde prevalece a autoridade, muitas vezes, deontológica diferente da autoridade epistemológica, mesmo sabendo que ambas possam encontra-se em um só sujeito. De sorte que, estes princípios «universais» ainda não se tornaram aceitos e as mulheres tanto quanto as crianças; assim como os homens  continuam a serem tratadas de acordo com o modelo local.

Em sua fundamentação teórica, François Houle trabalha com dois pontos de vista. O primeiro, dos autores: Guy Rocher, Gad Hiriwitz, fazem críticas  aos  modelos das políticas culturais canadianas, isto é, não acreditam no multiculturalismo canadiano, uma vez que na compreensão destes autores trata-se de um processo de assimilação cultural e/ou integração. Ao tempo em que, estas políticas passam a dar somente visibilidade ao biculturalismo, isto é, a herança da cultura francesa, assim como da inglesa. De forma que, os grupos étnicos estão exclusos do discurso oficial. O segundo é o reflexo do primeiro, ou seja, resistência cultural dos grupos étnicos e por consequência a criação de guetos. Terceiro, constrói-se uma camisa de força no que tange a mobilidade social, ou seja, em que língua se dialoga com o mundo? Em qual língua se comunica com o grupo étnico de pertença? A mobilidade social perpassa pela primeira indagação, e, se assim o for, os grupos de matriz não anglófona ou francófona terão de aprender esta ou aquela língua, ou ainda, as duas para pensar e interagir socialmente de tal forma que a assimilação cultural se constitui ou de maneira objectiva ou subjectiva. Quarto, inferioridade racial e o racismo; e com isso reproduzindo, a depauperação económica dos grupos étnicos, visto que “o multiculturalismo não responde os interesses de todos os grupos étnicos e seus valores simbólicos”.
Por outro lado, Raymond Breton tem um olhar positivo a respeito do multiculturalismo canadiano a partir do princípio da transformação do campo simbólico. De forma que, baseado na conclusão de Rocher, Breton entende que a ausência de consenso é natural da identidade ou da cultura canadiana. Compreendendo que o trânsito do nacionalismo cívico para o multiculturalismo preservará e, ao mesmo tempo, produzirá uma aceitação dos grupos culturais e da mesma forma do pluralismo cultural. O segundo ponto que Breton analisa é a dificuldade do multiculturalismo canadiano em encontrar meios que atenue o processo de assimilação cultural através  do reforço das diferenças, da unidade nacional e da coesão social.
Há impasses entre a cultura e a lei devido a complexidade de subtilezas entre a individualismo e a democracia; assim como  os direitos fundamentais e a participação política. Talvez, este seja o ponto mais nervoso das discussões entre o grupo étnico minoritário e a cultura dominante. «A questão é como pensar em um modelo que não faz parte do meu mundo? Como pensar em um modelo no qual  em   minha língua não existe significado? Como pensar em um modelo que entende minhas praticas como algo criminoso, algo passível de prisão, quando eu reproduzo praticas culturais dos meus ancestrais?» Talvez, seja esse a grande interrogação, que o texto pode responder através da assimilação e, ao mesmo tempo, pode ficar sem uma resposta que se adeqúe na pratica sem o devido respeito das culturas subjugadas.
Para J.N. Shklar, há pontos marcantes no seu trabalho «ethos[10] democrático». A autora elenca um tripé: a justiça, respeito e dignidade humana no trato das questões ligadas ao multiculturalismo. Este olhar dentro de uma perspectiva universal implica em algumas soluções e alguns problemas; isto porque na compreensão da autora os grupos minoritários irão entrar em choque com o que Francis Houle chama de «culture  públique commune», tendo em vista que questões de natureza privada tornam-se públicas quando dizem respeito: «liberté dans le choix de l’orientation sexuelle, liberté dans le choix de conjoint, interdiction de la violence conjugale ou envers le enfants, règles de mariage, de divorce, d’héritage, de parentnau».
A história da política multicultural do Estado canadense teve como objectivo: a) «a integração entre os grupos étnicos». b) «a não assimilação aos valores dominantes ou fragmentação cultural». Para tanto, esta viveu uma evolução no entendimento de sua realidade multicultural. Nos anos 60, temos dois momentos: a política canadense tem como tópicos centrais: o Bliliguismo e Biculturalismo, ou seja: 1) preservar a sua cultura através da intregração Franco – Canadiana, Anglo – Canadiana e grupos étnicos autóctones, assim como os imigrantes. No segundo momento, no ano de 1969. O governo canadense «adopta a lei sobre as língua oficiais consagrando desta maneira a carácter bilingue do Canada», contudo jamais foi reconhecido o biculturalismo. Nos anos 70, 2)« la préservation et la promotion du patrimoine culturel dês groupes ethniques étaient  mises de l’avant» Para tanto, o processo evolutivo da formação da cidadania canadense perpassa por vários aspectos: i) Sob influência do pensamento de Trudeau, que foi primeiro-ministro do Canada no período de 1968 – 1979[11]. Há uma defesa dos grupos étnicos e seus jogos simbólicos entendendo que estes reflectem parte do que venha a ser a nação canadense. ii) «le Canada est devenu le premeir pays au à adoter une politique de multiculturalisme». De tal forma que, o governo deste país terá quatro fundamentos; «favorecer a preservação das culturas minoritárias, facilitar a participação integral de toda sociedade canadense, suportar as trocas culturais e assegurar, aprendizagem de pelo menos uma das línguas oficiais». iii)  O desenvolvimento  da política de preservação património cultural  propiciou um outro passo que é «privilégier la diversité au détriment de l’unité». iv) as consequências da leitura social do aspecto anterior, isto é, criaram um leitura do sentido do que venha a ser intregração e do que venha ser diversidade, precisando Trudeau pronunciar-se, com o intuito de esclarecer a ambiguidade teoria que estava a se construir. Portanto, diz Trudeau: «o reconhecimento da diversidade cultural canadense permanecerá inteiramente submissa a liberdade dos indivíduos». Tredeau partirá do princípio da relação de pertencimento do sujeito canadense de fazer parte de uma das possível formas de ser canadense, seja autóctone, francofolo, anglófono e/ou imigrante, ou seja, compondo uma unidade na diversidade, rejeitando a assimilação cultural dos grupos minoritários, assim como enfraquecendo as representações simbólicas anglófonas. De forma que, a parti de 1970, «L’accentuation de la diversité des patrimoines culturels et l’accroissenmente de l’étendue du pluralisme des valeurs communautaires ont eu por effet de faire de la question du racisme et des diverses formes de discrimination un enjeu central du multiculturalisme.» 3). Na primeira metade dos anos 80, «les relations interraciales et la lutta à la discrimination ont été mises au centre du multiculralisme». i) ao adaptar o multiculturalismo às novas realidades da imigração canadense, que, segundo o grupo de trabalho, o multiculturalismo na decada de (1960 – 1970), preocupou-se  em instalar no Canadá grupos étnicos de origem europeia. «Par contre, suite à l’accroissement de l’immigration en provenance de pays non traditionnels, les objectives du multiculralisme devraient aller au-delà  du simple maintien de la culture et mettre l’accent sur l’intégration.» ii) o governo busca  construir uma sociedade com igualdade de oportunidade para todos com «liberdade  cultural para todos, garantindo a equidade e igualdade a todos reorientando a política para assegurar a igualdade, a justiça e equidade, não somente na esfera cultural, mas também política, económica e social»; assim como outras questões começaram a fazer parte do debate multicultural, tais como :(a) intregação social, (b) harmonização das relações interraciais. (c) protecção das línguas ancestrais, (d) participação das minorias na vida política;  rejeitando o que se chamou de «gheittoïsation», «luta contra o racismo, as diversas formas de discriminação e pré-julgamentos, com programas de acção afirmativa e aperfeiçoamento das relações interraciais e interculturais.». Portanto,  entende-se a importância da formação de uma sociedade mais igual e da mesma forma que respeite às cultura minoritárias.   4) Por fim no anos 90, «le gouvernement cherche à réaffirmer l’importance de valeurs fondamentales que tous les Canadiens devraient partager.». De maneira que : i) «visa corrigir os efeitos negativos da política negativa de Trudeau sobre unidade nacional » ii) «sacraliza a diversidade cultural cujo reprodução se fará em detrimento aos valores e símbolos fundamentais de pertencimento no Canadá e justificando a solidariedade social.»  iii) «os valores  essenciais  devem ser distribuídos igualmente a todos, mantendo a atenção: a democracia, o respeito ao outro, a igualdade, a equidade, a diversidade, às liberdades fundamentais e o respeito a lei (… ), a tolerância, a igualdade é fundamental para os homens e mulheres de toda e qualquer raça, religião e origem étnica.»
No artigo, «Contemporanéites Autochtones, Territoires et (Post) Colonilisme – Reflexions sur des exemples canadiens et australiens » Sylvie Poirier vai lançar um olhar para dois grupos étnicos: os Atikameku no Canadá e os Kukatja na Austrália. Com isso, a autora dar a impressão que aproxima uma lente objectiva sobre questões do multiculturalismo e dos grupos étnicos. De sorte que, a angulação dada compreende a realidade em sociedade onde o colonialismo, descolonização e pós-colonial fizeram e fazem parte da história destes povos.
Acredito que seja o momento de responder algumas perguntas que foram feitas inicialmente no que tange a natureza política dos grupos étnicos através do texto de Sylvie Poirier. Não do ponto de vista partidário do que venha a ser politica, todavia no que diz respeito a afirmação da identidade cultural, e do direito a terra, creio que estão sejam as questões centrais de ambos grupos étnicos lutam para a sua afirmação em um contexto pós – colonial.
Para tanto, Sylvie Poirier vai compor um quadro de como os Atikameku e os Kukatja tomaram umas posições políticas e de como estas se desenvolvem se aproximam e se distanciam. Se, por um lado, há uma clara afinidade no que tange: i) a luta por um espaço geopolítico reconhecido legalmente pelo ex-colonizador que representa o poder politico, assim como a recuperação de elementos que representam a identidade cultural, tais como: língua, religião, usos e costumes, história e afins. Por outro lado, enquanto: (a) os Atikameku criam organizações[12] que ao mesmo tempo o carácter de preservação da identidade cultural, e do mesmo modo procuram dar às mesmas uma dinâmica dentro da realidade capitalista, isto é, industrializar a cultura como forma de preservá-la; absorver os modelos brancos como forma de aceitação de sobrevivência dentro da realidade contemporânea. (b) os Kukatja terão um dialogo diferente para percorrer na busca de sua auto – afirmação cultural, visto que a interferência da “Missão Católica Balgo Hills” na formação cultural, chegando ao ponto de assimilação do dualismo do aborígene e do não aborígene. Do mesmo modo, segundo a autora, o governo australiano estabelece o fim da política de assimilação[13], entretanto na pratica o governo e a igreja mantiveram sob a sua manutenção o gerenciamento político dos autóctones, uma vez que coube a igreja a responsabilidade da educação dos mesmos.
A importância da intertextualidade para a compreensão do processo evolutivo da construção de uma sociedade democrática no Canadá tanto quanto a Austrália. Por um lado, percebe-se que cada autor procurou através de seus pontos de vista explorar a realidade daqueles contextos sócio-culturais e político – económicos. Por outro lado, a cada angulação dada é de suma importância para o entendimento do que venha ser o multiculturalismo, os grupos étnicos e a formação da(s) etnicidade(s) em sua realidade pratica, assim como do ponto de vista teórico e  estes se equacionam, quando um país por meio de um regime democrático implementa leis que  procuram legislar na tentativa de promover uma sociedade mais igual entre os diferentes.

Referências
Appadurai, Arjun (1997) Modernity at Large. Minneapolis. London.
Cohen, Anthony P., (1985). The Symbolic Construction of Community.  London & N. York. Routledge.
Hall, Stuart (2003) Da diáspora: Identidades e mediações culturais. Ed. UFMG. B. Brasil.          
Phillippe Poutignat e Streiff – Fenart, Jocelyne (1997) Teorias da Etnicidade.  UNESP. São Paulo.
Miles, Robert (1993). Racism after “race relations”.  Routledge. London.


[1] Domingos Oliveira de Sousa é pesquisador do GEAALC (Grupo de Estudos Africanos e Afrobrasileiros de Língua e Culturas da Universidade do Estado da Bahia) Prof. do Curso de História da Bahia.    Pati / Incluir e do Ensino Fundamental do Colégio Evaristo da Veiga da Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Bahia.
[2] Refere-se às estratégias e politicas adoptadas para governar ou administrar para governar ou administrar problemas de diversidade e multiplicidade gerados pelas sociedades multiculturais. (Hall:2003).
[3] Passando em revista um catálogo de definições da etnia e da tribo na escolha de critério comuns, tais como: a língua, um espaço, costume, um nome, uma mesma descendência e a consciência de pertencer a um mesmo grupo, que ele julga tributários da concepção europeia do Estado-nação: “ o denominador comum de todas estas definições de etnia correspondem definitivamente a um Estado-Nação de carácter territorial enfraquecido” (1985, p. 19) (Poutignat, Streiff- Fenart: 1997).
[4] Do mesmo modo, a definição de etnicidade dada por Eriksen é derivada de sua concepção da cultura, que ele define retomando o conceito de dualidade da estrutura de Giddens, por sua natureza dualística: a cultura é simultaneamente um aspecto da interação; ela é posta em movimento nas relações humanas como a condição que torna essas mesmas relações significativas. A noção wittensteiniana de jogo de linguagem, definida como “ um campo intersubjetivo ligado a um contexto particular e reproduzido pelos indivíduos na interacção”, é utilizada para dar conta do carácter local e contextualizado da cultural vista como “produção e reprodução de significações compartilhadas”. Enquanto versão particular do mundo, aquilo que nós representamos como “uma cultura” é aprendido e interiorizado, mas igualmente relacionado a outros sistemas de pertinência por regras de tradução e de conversão. Neste quadro, a etnicidade é vista como um idioma por meio do qual são comunicadas diferenças culturais em contextos que variam segundo o grau de significações compartilhadas. Não nos relacionamos, por tanto, com grupos étnicos, mas com contextos interétnicos, nos quais os atores em interacção utilizam jogos de linguagem que podem ser, segundo as situações, uniformes, imbricados ou incomensuráveis. (Poutignat, Streiff- Fenart: 1997).
[5] O operário estrangeiro e/ou trabalhador visitante.
[6] Desde 1652, que junto com os alemães e os franceses desenvolveram uma politicas segragacionista, que durante os anos de 1948 a 1994 vigorou na Africa do Sul sob o nome de Apartheid. 
[7] Linguagem Cultural: ou seja, são todos os jogos simbólicos e as suas dinâmicas culturais produzidas por determinado povo. Para o segundo termo – Língua(gem) Cultural Institucional, é toda a formulação, modelação, compreensão, julgamento, do Estado, das Religiões, dos Meios de Produção  sobre a cultura, assim como normatização da mesma  através de uma determinada língua oficial.

[8] O jornal Público noticia em 30/12/2007, com o título: Europa Durante o ano 2008, pode-se voltar-se a ouvir falar muito de separatismo. Levantando questões como da países e/ou comunidades que: a) desejam a independência, contudo são tutelado indirectamente pela UE (União Europeia), uma vez independentes perdem estes privilégios, como; a Córsega e a Escócia. b) se auto proclamaram como independentes, entretanto não foram reconhecidos, como por exemplo: Chipre, Chechénia, Transnístria, Ossétia do Sul, Abecásia e recentemente o Kosovo. c) querem tornarem-se independentes por motivos de natureza económica, isto é, países ricos que tem diferenças etno-regionais, e, por isso, a região mais rica deseja separar-se da mais pobre, visto que a primeira sustenta a segunda. Tal qual a Bélgica e o norte da Itália, Pandânia. d) desejam a independência como o  país Basco como fez o Kosovo no último dia 17/02/08.
[9] A nova lei deverá entrar em vigor após o anúncio no Diário Oficial do governo alemão e modificará a lei de imigração iniciada em 2004 pelo governo anterior, formado pela coalizão entre verdes e sociais-democratas em 2004. Entre outras coisas, o novo projeto de lei prevê os seguintes pontos:
 Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift:  Direito de permanência: será concedido a imigrantes "tolerados" que, a partir de 01/07/2007, estejam já há oito anos (solteiros) ou seis anos (família com filhos menores) na Alemanha, que saibam falar alemão, possam garantir seu sustento e não tenham antecedentes criminais.
 Do contrário, os mesmos receberão apenas um visto de permanência "probatório" e terão tempo até 2009 para encontrar um trabalho. Ainda não se sabe quantos dos 180 mil imigrantes "tolerados" poderão usufruir da nova lei.
Segurança Interna: no futuro, poderão ser requisitadas fotos e impressões digitais de cidadãos de países que precisam de visto de entrada na Alemanha. Isto permitirá, no caso de dúvidas, a identificação de estrangeiros através do reconhecimento eletrônico facial. 
Integração, naturalização, imigração 
Integração: quem se recusar a participar dos cursos obrigatórios de integração para estrangeiros poderá pagar uma multa de até mil euros. Quem atrapalhar a integração de outros, principalmente de familiares, deverá ser expulso do país. 
Naturalização: para migrantes com menos de 23 anos de idade, passam a valer as mesmas regras que para migrantes mais velhos. Até agora, os mais jovens não eram obrigados a comprovar a garantia do completo sustento para receber um passaporte alemão.  
Bildunterschrift: Imigração de cônjuge: cônjuges provenientes de países não-membros da União Européia só poderão imigrar se tiverem, pelo menos, 18 anos de idade. Além disso, devem comprovar, antes de entrar no país, que possuem conhecimentos básicos de alemão. A nova regra também vale para cônjuges de cidadãos alemães, com exceção dos provenientes de países privilegiados, como EUA, Austrália e Japão, que não necessitam de visto.  
Mão-de-obra qualificada:  Além de tentar evitar casamentos forçados, as novas regras correspondem aos novos parâmetros de proteção contra a ameaça terrorista internacional. A grande crítica do Bundesrat, no entanto, diz respeito às dificuldades ainda impostas à imigração de mão-de-obra qualificada.  
Antes de 2005, os estrangeiros que terminassem seus estudos na Alemanha eram obrigados a deixar o país imediatamente. Os formados têm agora um ano de prazo para encontrar um emprego, que ainda deve ser aprovado pela Agência do Trabalho. A câmara alta do Parlamento requer que o acesso ao mercado de trabalho seja facilitado a estudantes estrangeiros.  
Para estrangeiros que não estudaram na Alemanha e queiram trabalhar no país, a atual legislação exige uma renda mínima anual de 85 mil euros. Vistos para quem quiser investir na Alemanha só são dados a partir de uma soma de investimentos de 500 mil euros, quantia ainda considerada muito alta pelo Bundesrat.http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,2673021,00.html[06/11/07]

[10] A origem da palavra ética vem do grego “ethos”, que quer dizer o modo de ser, o caráter. Os romanos traduziram o “ethos” grego, para o latim “mos” (ou no plural “mores”), que quer dizer costume, de onde vem a palavra moral. Tanto “ethos” (caráter) como “mos” (costume) indicam um tipo de comportamento propriamente humano que não é natural, o homem não nasce com ele como se fosse um instinto, mas que é “adquirido ou conquistado por hábito” (VÁZQUEZ). Portanto, ética e moral, pela própria etimologia, diz respeito a uma realidade humana que é construída histórica e socialmente a partir das relações coletivas dos seres humanos nas sociedades onde nascem e vivem.Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda, ÉTICA é "o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto”.http://pessoal.educacional.com.br/up/1580001/198212/PAG.htm [03/03/08]
[11] http://en.wikipedia.org/wiki/Pierre_Trudeau [03/03/08]
[12] Os Atikamekw criaram organizações, tais como: Atikameku Sipi, Institut  linguistique Atikamekw, Association dês Trappeurs Atikamekw, Société Historique Atikamekw.
[13] Governo australiano pede desculpas públicas aos aborígenes  - JAMES GRUBEL - REUTER . CANBERRA - A Austrália pediu desculpas na quarta-feira (horário local) pelo histórico mal tratamento dado aos aborígenes, num gesto que líderes indígenas consideram capaz de acabar com a dor de gerações.
O primeiro-ministro Kevin Rudd disse ao Parlamento que as políticas passadas de assimilação, sob as quais crianças aborígenes eram retiradas de suas famílias para serem criadas por brancos, são uma mancha na alma do país.
"Hoje o Parlamento se reúne para reparar um grande erro", disse Rudd.
"Pedimos desculpas pelas leis e políticas de sucessivos parlamentos e governos que infligiram profundas aflições, sofrimento e perda para esses nossos compatriotas australianos.”·
O pedido de desculpas vem 11 anos depois da divulgação de um relatório sobre as políticas passadas de assimilação mostrar que entre uma e cada três e uma em cada dez crianças aborígenes foram retiradas de suas famílias entre 1910 e 1970.
O documento fazia um apelo para um pedido nacional de desculpas para os atingidos, conhecidos como Geração Roubada, mas o governo conservador vigente na época, do ex-primeiro-ministro John Howard, rejeitou as descobertas do documento e se limitou a divulgar um comunicado de arrependimento.
Rudd fez do pedido de desculpas o primeiro item da agenda parlamentar de seu governo trabalhista de centro-esquerda, que chegou ao poder em novembro do ano passado após 12 anos de domínio conservador.http://www.estadao.com.br/internacional/not_int123589,0.htm [12/02/08]

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O leão abobalhado

Domingos Oliveira de Sousa Vi um leão bobo. Disseram a ele que era o rei da selva. Ele acreditou. Podia mandar em tudo e todos. “Sou o rei”. “Mando aqui sozinho. ” Pensou por alguns segundos. O rei não sabia ler. Não sabia também escrever e falar em público. Ele não tinha habilidade para falar sobre assuntos espinhosos. Ele chamou o macaco prego para ser seu porta-voz. O macaco prego não era o mais malandro da selva, mas ele tinha um histórico de várias canalhices. Todo mundo sabia de como se comportava o macaco. Ele aprontava e dizia que era outro. Ele dizia a todo mundo que era honesto. Ninguém acreditava, mas todo mundo sabia quem era o macaco.  Todo mundo ouvia o macaco, porque o leão, quando falava era através da ameaça. “Vou matar você”, “Vou comer você”, “Vou expulsar você de minha selva” e a coisa iam caminhando para um caos total na selva. Sempre que podia o macaco colocava uma casca de banana no caminho do leão. O rei dos animais pisava na casca. A pa

Fé na fita: Igreja do Senhor do Bonfim!