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Identidade(s)

À Marcelo Geraldo
Stuar Hall no livro, “ Identidade Cultural na Pós – Modernidade ”, procura designar para identidade três conceitos: o primeiro, para o sujeito Iluminista, o segundo, para o sujeito sociológico, e terceiro para o sujeito Pós Moderno.
Se tratarmos da cultural material da cidade do Porto como uma linguagem, que dimensiona a mentalidade homem e o espaço geográfico. Observaremos uma íntima ligação entre a cidade de Salvador na Bahia e a cidade do Porto em Portugal. Entre a baixa e a alta da cidade, entre os rostos salgados de homens e mulheres, entre as fachadas das casas que tanto nos dizem algo, como as ruas estreitas da cidade do Porto.
Em Salvador, ficaram sítios e acervos, memória viva da arquitectura Portuguesa, traço identitário tão forte que nos faz pensar que a arquitectura é de um pensar baiano quando não o é. Pois, então, perguntamos, Se pensarmos em cultura material baiana dentro de uma mentalidade portuguesa sem ao menos conhecê-la? Isto nos revela o quanto nós somos colonizados e não nos damos conta.
Muitas vezes temos a sensação de dialogar com as imagens que vão nos apresentando durante os percursos do ônibus, do metro e do trem, não aquela sensação de já ter passado por aqui ou por ali. É uma sensação do que fizeram aqui no Porto, fizeram parecido em Salvador.

Temos uma Avenida Brasil, que tem pelo menos mais de um século e meio de existência, Se do ponto de vista histórico, é mais velha que a república brasileira ou ainda a libertação dos escravos, do ponto de vista arquitectónico temos um pouco do Porto dos Tanheiros na Ribeira, um pouco da Avenida Oceânica, um pouco do Farol da Barra, só que aqui não há uma barra, e sim, um Castelo Medieval e em seguida a Foz do rio Douro que se encontra com o Oceano Atlântico,
Em Salvador, há uma efervência em afirmar sua afrodescendência, pois o baiano aqui seria: guineense, são tomense, angolano, moçambicano, cabo–verdiano. Não haveriam dúvidas: somos afrodescendentes, mesmo que não nos aceitemos como somos. O olhar do outro é que nos diz, mesmo que esse outro seja o nosso colonizador o qual nos identifica como alguém que veio das ex-colônias. E nós nos perguntamos, somos tantos, e somos um?
Não desejamos ser tantos como também ser um. Queremos ser brancos(as), ser moreninho(a), ser moreno(a), ser moreno(a) claro(a). A África ainda é uma marca que dói em nós mesmos. Essa tentativa de dissimular que nossos antepassados foram levados na condição de escravos no Brasil ainda nos maltrata, nos confunde, nos estigmatiza, nos humilha, nos adoece, e ficamos uns a discriminar aos outros, como se o outro fosse branco e aquele um fosse negro, quando ambos estão no âmbito da cultura brasileira, e por isso somos afrodescendentes brasileiros na comtemporaneidade.
Paralelo a estas dicotomias, vêem as questões de natureza social. A inserção no mercado de trabalho, o nível de escolaridade, às condições de moradia, saúde, transporte, segurança, onde a gradação de cor tornam os sujeitos aceitos ou não aceitos. Novamente, a sociedade soteropolitana se divide em brancos e não brancos, e em negros e não negros, mesmo que não sejam brancos, mesmo que não sejam negros, mas é o capital que os branqueia, mas é os capital que o escurece de tal forma que os tornam aceitos, cujos elementos de sua estrutura social, de suas representações, que os compõem vão dizendo quem é este sujeito de onde vem(…), e para onde vai(…), criando identidades, que atende muito mais aos interesses de quem as constrói do que de quem as se submetem as elas; de maneira que independente da sua competência técnica, intelectual, entre outras, a inserção social não acontece. Os sujeitos adoecem, tornam-se moreninhos(as), como se fosse possível comprar um bilhete para uma festa, quando ela já acabou há muito tempo.
As oportunidades ficam restritas a uma elite e a ela cabe dizer: quem participa? Por que participa? Como participa? As relações de poder e de quem vai exercê-lo, no entanto o que se percebe é que a festa acaba, e os não aceitos são chamados. São chamados para a limpeza, para a manutenção. O glamour já se foi o que ficou, foi a sensação de participar de algo que um dia a sociedade acreditava como uma de grande importância.
Porto, 28 de novembro de 2005

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