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As novas Margaridas

Todos os dias são iguais. Você acorda. Vai ao banheiro. Faz... depois volta para a sala. Pega o jornal ainda preso à porta. Se estiver com preguiça, não faz o cooper. Caso esteja com vontade, põe o tênis, e sai para ver pernas passando de um lado e para outro. Quando volta, a coisa é a mesma, mamão, melancia, água de coco entre outras coisas as quais compõem seu desjejum. Você repõe suas energias e se apronta para o trabalho.

Mas quando sua empregada diz:

- Quero minhas contas.

- Eu nunca te paguei nada.

- Por isso mesmo! Eu quero minhas contas.

- Mas... Mas... Mas... eu nunca te paguei coisa alguma. Nunca te paguei nada. Como é que vou começar a pagar agora.?!

- Seu Gilson, hoje, faz trinta anos que trabalho aqui.

- É... sinceramente. Não sabia. Mas é por isso que você quer as suas contas.

Margarida era a empregada desde o tempo que meus pais eram vivos. Aos seus quinze anos, ela entrava pela porta dos fundo, e daqui nunca mais saiu. Quer dizer: enquanto meus pais viviam. Margarida tinha lá suas regalias. Minha mãe cheia de cuidado com a " filha " que não teve. Margo pra lá... Margo pra cá...Ela não estudou, mas também não precisava. Não colocou o pé na rua, a não ser que fosse com mamãe. Margarida era muito bem tratada desta forma não esperava, como ninguém esperava, a morte de meus pais tão rapidamente. Enfim, Margarida teve seus planos de crescimento na vida, jogado no ralo, por falta de cuidado de nossa família. Caminhando para os quarentas e cinco anos: D. Margarida me enfrentava como nunca.

- Vou colocar o sr. na justiça; depois que dona Gildete morreu, que Deus a tenha onde estiver. Eu não recebo mais nada. "Um agrado aqui ." " O troco do leito ali ". "O trocado que sobra da feira acolá..." Mas isso não é salário. Isso ninharia. Eu não sei o que é um vestido novo. Só uso molambo dos outros. Tudo roupa usada. Festa, eu só vou para servir. Essa minha vida é uma droga. Já estou ficando velha. Quero minhas contas, se não vou colocar o sr. Na justiça. O sr. Vai pagar tim... tim... por tim... tim... Hoje é o dia do meu aniversário. Quero um presente. Quero tudo que me é de direito.

Eu não esperava um café da manhã tão indigesto. D. Margarida às voltas pela mesa. Olhando para mim. Falando alto. Xingando. Relembrando, quando minha mãe era viva. O tempo, que era garoto, e fazia travessuras, não voltaria mais; nem para mim, nem para ela. Cheguei a chorar; todavia ela dizia no final: " O sr. Vai parar na justiça".

- O que é que deu em você, D. Margo, para me colocar na justiça. Até ontem, nada, a senhora não falava em nada disso. Tá devendo alguma coisa? Se você quer roupas novas me falava que não haveria problema nenhum. Vamos ao shopping?!!! Tá zangada com a vida. Eu também tô. Dinheiro está pouco ou não existe nenhum. Não é somente para você. É para mim da mesma forma. Tá tudo caro! Tá tudo uma exploração. A vida está uma droga para mim também. É. Isso é a realidade. Me levanto e dou uma de burguês decadente. Estou falido. D. Margo vamos fazer o seguinte: hoje, eu não vou mais trabalhar. Nós vamos sair para qualquer lugar, qualquer loja. Compramos tudo o que você quiser e pronto. No mês que vem, eu te dou um salário. Falo com Aderbal amanhã mesmo. Está tudo resolvido, acho que essa é a melhor forma de pagar à senhora.

- O que seu Gilson? Comprar roupa? Ir na loja que eu quiser? Não quero esse cala boca. Quero meus atrasados. Seu Aderbal já me explicou tudo. O sr. tem que pagar tudo.

Para que Aderbal foi falar com essa negra burra. Contador linguarudo. Essa zinha vai me tirar o couro. Falei para mim mesmo, enquanto me movimentava pelo apartamento.

Aderbal era amigo de meu pai, e por conseguinte era meu amigo. Margarida já tinha intimidade com seu Derba, assim que eles se tratavam, Margo e Derba. Mas eu nunca imaginaria que o velho Aderbal me trairia, ou andasse com a línguas nos dentes, ou ainda me apunhalasse pelas costas. Ele, contador e advogado, tinha momentos de arroubos de justiça. Contudo, desta vez, eu entrava no samba. A nêga estava cheia da razão. O que fazer? Dá um jeito para pagar à D. Margarida.

- Margo minha querida vamos fazer um acordo. Hoje à noite, eu chamo meus irmão e minhas tias para fazer uma reunião em famílias. Todo mundo morou aqui no tempo da fartura. Bastou minha mãe morrer para cada um carniceiro procurar um canto para explorar a outro e a outras. Cada um tem que pagar sua parcela dessa dívida. Afinal, você não trabalhou para mim sozinha. Todo mundo abusou da sua ingenuidade e sua ignorância. Paulo sempre trazia o sapato sujo logo após o futebol. Os meus você nunca limpou. Angela, minha tia mais nova, nunca varreu a casa, pratos nem pensar, ou fez algum serviço doméstico. Imagine Angela ariando o banheiro. Em se tratando desse assunto, você não pode dizer nada. Eu sempre te ajudei. E que fim Angela levou? Casou. Arrumou um besta, que ela vive chifrando, para pagar as contas.

- Seu Gilson, pouco me interessa quem ajudou ou não. Fui e sou explorada. Vou colocar o sr. na justiça. Interrompeu Margarida, no entanto não me dei como vencido.

- Eu trabalho aqui. Ele mora pelo quintos do inferno. Além do mais, aquele deu para ruim com aquela mulher, com aqueles filhos. O tempo está se incubindo de fazer que o capetinha pague por suas traquinagens.

- Ainda tem Gilda e Gizélia. Elas hão de me ajudar. Todas as duas já estão à beira da morte. Se elas deixarem aquela casa enorme da Lapinha pra você, Margo, estamos conversados. Tá certo?!

- Eu quero ver; tudo no preto, e no branco. Papel passado com o nome de Margarida Moreira de Jesus dos Santos. Trinta anos cozinhando, lavando, passando, ariando, engomando, e fazendo de tudo dentro desta casa. E eu? Para mim nada? Nada nesta vida me deixa feliz? Só tristeza! E o senhor só vive chorando miséria. Eu quero meu dinheiro. Eu quero ser feliz.
- Vamos sair agora, antes, eu vou dar uns telefonemas. À noite, com toda família reunida. Você vai ter o seu. Você vai ser recompensada. Enquanto eu falava, ia discando para a agência alegando doença.

- Telefone também para seu Aderbal. Tá bom. Disse ela de forma carinhosa, quando falou no nome de meu amigo.

- Tá. Eu ligo. Falei tentando tranqüilizar a mulher que transbordava de emoção.

A aflição já me vinha à cabeça. A conversa se prolongava. A idéia de me colocar na justiça crescia. D. Margarida expunha para fora uma raiva contida durante toda sua existência em silêncio. Era melhor calar-me, antes que ela desse uma troço e morresse do coração.
Sempre dizendo: sim, ao que ela falava. Procurando mostrar atenção a seu discurso, eu comecei a telefonar para a parentada. Gilda e Gizélia prometeram vir como sem falta. A princípio, alegaram o horário.
- Muito tarde mano. Oito horas, esta é a hora da novela. Nove horas, já estamos nos arrumando para dormir.
- Tudo bem. Sete. Você assistem à novela aqui em casa. Mas tardá, dez da noite.... eu levo vocês para casa.

- Eu não tinha ligado para ninguém. Podia fazer uma concessão para as duas senhoras.
Gritei do quarto para cozinha.
- Margo pode se despreocupar. Gilda e Gizélia estão confirmadas. Pode ficar tranqüila que hoje é o seu dia.
Animado. Peguei o telefone com a vinda das meninas mais velhas. Falei com Angela. Hoje, doutora Angela. Criou uma série de dificuldades, e por fim disse:
- Chegarei atrasada, porém vou. Não se preocupe. Será um bom momento para rever o irmão. Fiquei tranqüilo com a vinda de minhas tias e minha irmã. Eu, desta maneira, me safaria desta conta tão alta.

Paulo, meu irmão mais velho, eu não encontrei em casa, nem no trabalho. Todo atarefado com o seu barco novo que tornou-se impossível encontrá-lo em qualquer lugar, provavelmente. Estaria velejando.
O mano mais novo, Kleber , eu não queria nem conversa. Vivia me pedindo dinheiro emprestado. Mês sim, mês não, Kleber aparecia com a mulher e os cinco filhos para me comover com sua pobreza. Se eu ligasse para ele; era bem capaz dele aproveitar para tirar um pouco também de cada um. Seria uma noite lucrativa para Kekeu. Não. Kleber não. Vai atrapalhar tudo.

Saímos, o dia foi rápido. Tentei. Bem, que tentei, enrolar a nega com alguns trocados e presentes. Levar num restaurante chique, não daria certo; intimidaria Margo. Fiquei entre o si e o não. Comemos uma moqueca de peixe num dos grandes restaurantes do mercado modelo. Ela comia com a mão. Morri de vergonha, entretanto fingia-me satisfeito.
No final da tarde, já ansioso com a vinda de meus parentes. Voltei a ligar para todos. Confirmei com todos. Contei algumas piadas. Por fim, estava tudo certo. Esqueci de Aderbal Acho que foi um esquecimento proposital. Aberbal pra quê? Ladrão manso (...) . contador safado. Aderbal pra quê?
Deixei Margo sentada, cochilando em frente da televisão. Necessitava comprar alguma coisa pronta para oferecer ao povo. Saí sem fazer o menor barulho.
Ao voltar para casa, D. Margarida estava acordada à beira do fogão. A mulher cozinhando. O aroma subia por toda a casa. Um cheiro tão agradável que, por alguns segundos, o silêncio me convencia na volta da normalidade. Pensei que D. Margarida tinha esquecido do nosso drama da manhã. Eu com minhas pizzas fiquei desconsolado. Cheguei na cozinha. Margarida olhou para mim; e disse:

- O sr. Está desesperado.

Não tive reposta. Senti o terror voltar. Tem coisas que é melhor nem falar. Tencionar colocar as pizzas no lixo. Perdi a fome. Botei tudo na mesa da cozinha. Corri a casa para ver como estava, a fim de receber meus irmãos. D. Margarida tripudiava do meu estado. Agora, vinha com um cinismo horroroso. Quase perco a calma. Respirei fundo para o mundo não acabar.
Tudo pronto. Comida feita. A casa varrida. Os móveis limpos. Os banheiros cheirosos. Tudo em perfeito estado, D. Margo tomava seu banho delicioso no meu banheiro. Cantarolando, cantando... bem alto... com um ar de vitória. Sentada em minha cadeira preferida. Sentei ao seu lado por um instante, tentando apaziguar a situação. No ar, um cheiro de perfume barato substituida o aroma da boa comida. Margarida sentia-se a própria dona da casa.

Pedi licença a Margo. Voltei-me ao meu quarto. Olhei para o teto como toda vez que a vida ficava chata, e eu deprimido. Nervoso. Sem saber o que fazer. Tentei esquematizar o meticuloso discurso para tal reunião. Todas as pessoas tinham de ser sensibilizadas. Eu não pagaria essa conta sozinho.

Seis e meia...

Levantei. Fui ao banheiro. Voltei para cama. Não fiz nada. Só foi impresão (...) . Coloquei um CD de Caetano Veloso. Não tenho qual foi. Talvez, O Estrangeiro. Não lembro da música. Sei que era do jeito como eu me sentia em casa. Não sabia se a casa era mais minha.
Sete horas...
Cheguei à janela. Nada. Nem sombra de carro das velhas? Conforme o nosso acerto, as duas viriam de taxi, mas também não vi o tal carro. Fui a geladeira. Bebi água. Senti um frio retado. Voltei para o quarto sem dar uma resposta digna a nega. Pensei em falar-lhe algo, contudo disse não para mim. Deixe ela assistindo a novela quieta, antes que D. Margarida falasse alguma gracinha. Evitei qualquer contato.
Sete e meia.
Retornei à janela. Nada. Silêncio profundo, parecia madrugada. A baiana, que vendia acarajé e outros quitutes na esquina, levantava o seu tabuleiro. Venda feita. A mulher satisfeita com o seu comércio. Expressava uma sorriso para mim; como se estivesse perguntando: " Por que você não veio homem como vem sempre? ".
Oito horas ...
Voltei ao banheiro. Tomei um banho bem demorado. Sai com a toalha na cintura. Não sabia onde estava meu roupão. Não queria falar com D. Margarida. Peguei o telefone como última cartada. Liguei para as velhotas; enquanto a ligação se efetuava, a campanhia soou...

Larguei o telefone. Abri a o guarda roupa. Encontrei o roupão azul escuro, o meu preferido, limpo e cheiroso. Parti para a sala. Pronto para sorrir para o povo que vinha.
- Aderbal?!....
À medida que a hora marcada se distanciava; o perigo ao invés , de dissimular, muito pelo contrário, se aproximava cada vez mais. O negro Aderbal, alto, forte, de terno e gravata bem alinhado entrava em minha casa, sob os cuidados de D. Margarida. Simplesmente, gelei. Fiquei rouco. Botei a mão no bolso sem a intenção de cumprimentá-lo. Mas não adiantou nada. Derba festivo como sempre em sua velhice. Andou em minha direção. Esticou a mão, me deixando sem graça.

- Como vai seu Gilson? E com aquele tom de ironia que lhe era perfeito. Derba batia em meu ombro. Apertava minha mão. Eu completamente desolado das idéias que não eram as mesmas dele o conduzi ao sofá.

- O quê que há Derba?. Perguntei sabendo a resposta.

- Nada. Vim para a reunião de vocês. Não sou da família Andrade, mas tenho lá minhas razões para estar aqui. Sei que a comida de Margo é uma das melhores que conheço. Não podia perder essa boquinha. Falou com um tom de ironia. - Como também saber como vai acontecer a indenização da minha velha Margo.

D. Margarida sentou-se ao lado de Derba; como se ela a defendesse. Eu coçava a cabeça frente aos dois.

- É. Pelo visto, não vem ninguém. Vou cortar relações diplomáticas com meus irmãos. Marco uma reunião. Ninguém aparece. Margarida bem que eu tentei resolver seu problema, contudo agora só no meu aniversário. Faço uma festa. Os esfomeados vêem aqui, e nós discutiremos sua indenização.

- Não seu Gilson. Esperar seis meses. Tá maluco(...) Boto o senhor na justiça, antes disso. Falou dona Margarida mostrando uma arrogância que eu não conhecia.

- Calma!!!! - Interviu Aderbal. - Fiquem calmos, por favor. Desta vez, Aderbal gesticulou, no entanto apaziguar os animos. Em seguida, abaixou os braços que pareciam reger uma orquestra , e como maestro pedia silêncio ao público.

- Margo vá fazer aquele café que só você sabe e faz. Enquanto isso, eu vou tocar uma palavrinha com o nosso amigo aqui.

- Derba como é que você pode fazer isso comigo? Fiquei em tom de constrangimento, procuranro reaver a nossa amizade para persuadir o velho amigo.

- Meu amigo. Aderbal parecia preocupado. Levantou-se de onde estava, e sentou-se ao meu lado. - Há trinta anos que essa senhora trabalha por aqui. Serviu a sua mãe e seu pai, sua avô e suas tias. Sem nada , vocês não deixaram nada de concreto para ela. Lembra de Terência que morreu trabalhando na casa de seus pais. Aquele casarão no corredor da Vitória cujo tamanho era de assustar qualquer faxineira. Margarida começou ali. Varrendo, limpando, encerando e fazendo outras coisas mais no lugar de Terência. As outras que vinham para trabalhar na sua casa. Viam o trabalho. Fugiam! Fugiam! Por que vocês sempre exploraram os seus empregados. A sorte de Margarida foi ter mudado para um apartamento. O imóvel modesto. Por isso que ela está viva. A nega criou Kleber. A nega criou e suportou aquelas suas tias ordinárias. Será que não merece nada?

- Mas sou eu que vou pagar? Falei meio desnorteado pelo meu passado.
- Alguém tem que pagar. Margarida trabalha quinze anos somente para você; e trinta para sua família. O jornalista do quinto andar quer lhe denunciar por trabalho escravo. Já preparou tudo. Vai Chamar a imprensa. Conversar com os moradores. Entrevistar pessoas. Mostra para todo o Brasil um monte de mulheres com a carteira assinada, e você será o monstro que escraviza sua empregada doméstica. Você sabe que ele não gosta de você. E você sabe o porquê. O que você prefere: pagar o que ela merece a passar por senhor de escravos no final do século XX??? O que fico pensando é que você nunca pagou nada. Nunca deu um tostão a nega?

- Ela nunca me pediu...


- Você não é besta?!...

A conversa já estava esquentando, quando Derba voltou-se para a pasta que sempre mantinha consigo. Havia uma rumieira de papéis. Ele sorriu, e tirou uma espécie de acordo e entregou para Gilson dizendo.

- Para justiça do trabalho, isso não tem o menor valor, entretanto para nós será de alguma valia... Você vai sair ganhando. Imagine quanto você vai pagar pelos tramites legais, entre multas, atrasados, etc, etc, etc . (...) Duvido que seu vizinho diga alguma coisa. Você ainda pode ganhar um espaço a mídia do jeito que você gosta. Pense. Empresário tratar empregada doméstica como um ente da família. Ou " Empresário respeita o trabalhador " ou ainda, Empresário justifica sua pratica de justo e honesto para com o s empregados. Eu não sou bom dessas coisas de propaganda. Desta parte, você entende bem melhor que eu. Basta você querer e sai aquelas frases geniais. Tudo mundo vai ficar contente. Você nos jornais noturnos e diurnos e Margarida com o que merece.

- É. Tem razão Derba. Então, quanto eu pago para me ver livre dessa neura.

O homem tirou o óculos. Coçou a barba. Alinhou o bigode e falou de fora bem rápida.

- Quinhentos mil, seu carro, um apartamento desse prédio ou de qualquer outro do mesmo porte bem arrumado e aquela casa que você tem na ilha de Itaparica. Fui ouvindo, e tentando raciocinar o que ele estava dizendo. Mas foi instantâneo.

- Tá maluco Derba. Você quer me sacaniar! Você é eu chapa. Quer me vê falido. Eu sou pobre.

Aderbal tentou falar uns monossílabos, todavia não deixei.

- Já sei o que você vai falar. Tudo bem, quinhentos mil, eu posso até ter. Você sabe de minhas contas fora do Brasil melhor que eu.

- Você tem. Retruco Aderbal.

- A casa da ilha. Vá lá. Ela tem que ter onde morar.

- Você tem umas cinco casa na ilha. Seis apartamentos neste prédio de luxo. E nem vou falar nas outras propriedades.


- Aqui, eu não.

- Aqui, não o quê? Perguntou Aderbal...

- Morar, aqui, não. Eu dou. Aderbal olhou e fez um gesto. - Eu nem deixei ele falar. - Eu pago com um apartamento na Pituba. Eu não quero ver esa diaba morando perto de mim.

- Certo, o que mais, cotinue. Falou Aderbal tentando finalizar a conversa.

- Mas o B.M.W. , eu não dou. Só tenho um. - Isso ela não toma de mim.

- Dá, não. Você não está dando nada. Você está pagando. Interpelou novamente, entretanto dessa vez falando.

Mas meu B.M.W. não. Se eu der meu carro vou deixar de ser classe média. O B.M.W não. Pode me botar na justiça.

- Gilson, menino, você não percebe que o carro é o principal. É o que mais ela quer. Você pagando com o carro; Margo não vai questionar mais nada. Será sua felicidade e a dela. Pense bem rapaz, você perde está causa em qualquer instância, e ainda e capaz de passar uma vergonha nacional. Fora isso, você tem que pagar os altíssimos juros ao próprio ministério do trabalho.

- Mas meu amigo, trata-se de meu status quo, trata-se de meu patrimônio.

- Do seu patrimônio, sei eu. Sou eu seu contador há dez anos. Sou eu quem faço as contas do seu Imposto de Renda, como fiz de seu pai, e cuidei do patrimônio de toda sua família, como também até hoje sigo as instruções do seu falecido pai que manteve e mantém sua boa vida.

- Tá bom. Chega. Me deixe em paz. Me garanta que nunca mais verei ou terei de pagar mais alguma coisa a essa Margarida. Li. Assinei uma rumieira de papeis. Em seguida, Margo veio sorridente. Na certa, tinha ouvido toda conversa por trás da porta. Serviu o café, procurando sair para não criar qualquer celeuma.

- D. Margarida sente-se para nós conversarmos. Ela se chegou para o lado de Derba como da primeira vez. Aderbal contou-lhe tudo, escondendo alguns detalhes sobre a atenção e confirmação de Gilson . Depois, por curiosidade, O dono da casa pergunta.

- Agora, D. Margarida me diga uma coisa: que a senhora pretende fazer com sua nova vida?

- Seu Gilson, vou te confessar. Uma coisa que vou fazer. É casar. Casar com Florêncio. Ele é o porteiro do prédio, o senhor conheçe. Outra coisa: o senhor nem imagina. Vou à São Paulo conhecer Sílvio Santos.
Salvador, 15 de novembro de 1999
Domingos Oliveira de Sousa

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